Oleron, a primeira mulher da Câmara de Vereadores da Vitória de Santo Antão
O Portal da Câmara de Vitória prossegue a coluna “Nossa História” trazendo documentários históricos com relatos da antiga vida legislativa. Neste momento, faremos uma Trilogia histórica das únicas mulheres que alcançaram uma cadeira na Casa Diogo de Braga. Iniciamos com Florianita Oleron, para depois prosseguir com Iara Gouveia e encerrarmos este documentário com Fátima Carneiro, as três ex vereadoras. Como primeira parlamentar vitoriense, Florianita conta sua experiência legislativa (dividida em duas partes) e traz para todos, os bastidores políticos de uma época de repressão à liberdade de expressão
Uma vida marcada pela Educação. Tudo começou ainda menina no Município de Serra Talhada, no Sertão de Pernambuco, quando escreveu um bilhete pela primeira vez na sua vida, pedindo para Deus ser uma Professora igual à Ana (sua primeira educadora), numa época em que o acesso a escola era bastante precário. Florianita Oliveira da Silva, filha do Tenente Oleron, nasceu em 18 de março de 1933, entrando para a história da Vitória de Santo Antão, na Mata Sul do Estado, como a primeira mulher a assumir uma cadeira na Câmara de Vereadores da Vitória, no período de 1968 a 1972. Chegou a Vitória de Santo Antão em 1948 com seus pais, aos 15 anos, quando sua história de vida ganhou ares de desafios, amor à terra vitoriense e êxitos pessoais.
Hoje, aos 80 anos, Florianita Oleron, como é mais conhecida, batizou-se com este nome quando casou com um militar. Genitora de uma filha e dois filhos, é avó de dois netos. Uma família genuinamente vitoriense.
Chegou a Casa Diogo de Braga quando o prédio funcionava na antiga Rua da Águia (Centro) em uma época onde o preconceito contra a mulher era bastante forte. Foi eleita pelo PSD para um mandato que conviveu com os “anos de chumbo” em plena Ditadura Militar no Brasil. “Minha campanha foi linda e ganhou a simpatia popular, apesar do preconceito. Não havia na época a compra desenfreada do voto. Os comícios todos iam, pois eram grandes espetáculos de cidadania”, recordou em entrevista exclusiva a equipe do Portal da Câmara de Vitória.
Quando se elegeu vereadora, Florianita Oleron foi testemunha ocular da quebra de um ciclo político na cidade. A eleição de 1968 culminou com a derrota do forte grupo político de José Mixto Monteiro que perdeu o poder na cidade para o popular médico Ivo Queiroz Costa (PSD). Mixto, antes de dominar politicamente, durante muitos anos fez oposição a outro político que dominou a Terra das Tabocas: o comerciante Inácio de Lemos. Ela relatou a razão de ter sido eleita no palanque de Dr. Ivo: “Nossa família era ligada politicamente a José Mixto, porém ele apresentou um candidato que não nos agradou”, lembrou.
Era a eleição do vereador de oposição Ivo Queiroz contra Elias de Miringaba (da antiga UDN). “Elias de Miringaba foi o nome lançado por Zé Mixto. Era uma figura folclórica. Ninguém o levava à sério. Não reunia perfil para ser prefeito”, analisou a Profa. Florianita, justificando sua ida ao palanque de Dr. Ivo, após este a estimular para ingressar na vida pública. Ela contou que Zé Mixto apoiou Elias de Miringaba para atender na época a um pedido pessoal do Ministro da Agricultura João Cleofas de Oliveira. O então Governador de Pernambuco Miguel Arraes de Alencar, que assumia seu primeiro mandato a frente do Palácio do Campo das Princesas até quando foi deposto pelo Golpe Militar em 1964, estava impedido de influenciar os pleitos eleitorais. Neste interstício, passaram enquanto era vereadora, os governadores Nilo Coelho (1967-1971) e Eraldo Gueiros (1971-1975).
Bastante falante, como Vereadora vitoriense seu mandato se destacou na defesa da educação pública e contra as arbitrariedades cometidas ao trabalhador urbano e rural. Quando assumiu o mandato, o presidente da Câmara era o também estreante Otoni Rodrigues (Otoni Propaganda). “É importante registrar o caráter de Otoni, uma figura extraordinária que conduzia a Casa com destreza e imparcialidade”, ressaltou à memória do seu colega falecido na década anterior a esta. Ainda integravam o Legislativo: Severino Carneiro da Cunha (Seu VI), Carlos Amâncio Lopes, Elias Gomes de Freitas, José Emiliano de Sá e Joca Néri. “Fui de uma época em que as pessoas questionavam mais, nenhum projeto de Lei passava na Câmara sem contundentes debates”, afirmou Florianita em tom de orgulho.
Como parlamentar, Florianita Oleron foi autora de centenas de Requerimentos a favor da população. Foi através de seu mandato que estimulou o Legislativo da Vitória de Santo Antão a cobrar junto a COMPESA água potável para a cidade. “Foi uma grande luta, pois a cidade era abastecida por um poço. Fomos ao Governo do Estado inúmeras vezes até que conseguimos uma grande obra”, lembrou entusiasmada.
Foi proposta do mandato de Florianita Oleron a criação para padronizar o serviço de transporte urbano e rural do Município. Relatou também que chegou a ser hostilizada pelo poder econômico vitoriense quando saiu em defesa da jornada de trabalho dos comerciários. “Existia uma determinação para fechar o comércio às 12 horas do sábado. Houve muitas divergências, sobretudo por parte dos Comerciantes e Empresários em razão de nós sempre denunciarmos na Tribuna da Casa a jornada dupla que os trabalhadores do comércio se submetiam”, salientou.
Demonstrando suas raízes ideológicas ligadas ao setor educacional, cobrou várias vezes do Prefeito Dr. Ivo Queiroz a qualificação dos professores da rede municipal de ensino, sobretudo aqueles educadores que eram subvencionados e estavam ameaçados de serem excluídos da rede escolar. “Eu ia pessoalmente conhecer as escolas da Zona Rural em um carro velho da Prefeitura. Era uma situação difícil, motivo de vários questionamentos de nossa parte na Câmara”, frisou.
Dentre as polêmicas surgidas durante o mandato, lembrou-se de sua defesa na criação da Escola de Terra Preta voltada as práticas agrícolas. Havia denúncias, algumas delas levantadas pelo Vereador VI, de que a obra seria subfaturada. Entre a ‘cruz e a espada’ já que ela fazia parte da base aliada ao prefeito, tomou coragem e foi cobrar satisfações a Dr. Ivo Queiroz. “Flor (era assim que ele a chamava) é um absurdo o que estão nos acusando”, falou o médico. Irritado com as provocações da oposição, Dr. Ivo mandou que derrubassem as paredes da escola de Terra Preta para que todos medissem a quantidade de cimento que havia sido doado por ele à obra (sic).
Ademais, Florianita Oleron fundou a Escola Estadual Profa. Amélia Coelho em 1965. Foi gestora da Esc. Senador João Cleofas, em 1972. Foi Coordenadora Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação. Além de ter fundado e coordenado por 16 anos, o Centro de Cultura Escritor Osman Lins, todos em Vitória de Santo Antão. Em seu currículo profissional, se atesta a sua vida ligada à Educação, sendo diretora do Instituto Evangélico da Educação no Grande Recife, Diretora do Instituto Dom Bosco em Jaboatão dos Guararapes quando conheceu o Padre Aurino, bem como coordenou a Escola Joaquim Olavo, no município do Carpina, na Mata Norte do Estado.
Devido a sua postura questionadora e transparente, a professora sentiu “na pele” o que é ser perseguida pelo poder político. Servidora efetiva do Estado de Pernambuco, Florianita foi vítima de perseguições, humilhações e tentativas de subserviência enquanto atuava como funcionária do governo. Vários relatos atestam este sofrimento que quase a levou para uma intensa depressão, vitoriosamente superada, demonstrando sua singular personalidade. Estes fatos estão relatados em um segundo momento AQUI no Portal da Câmara.
Desempenhou seu único mandato com altivez e sensibilizada com as boas causas do povo de Vitória. Chegado o momento de uma nova eleição, já em 1972, o seu apoio político era buscado ‘a preço de ouro’ pelas principais forças políticas do Município. Sua atuação política tinha uma marca indescritível: a sua oratória! Mulher com forte discurso e belíssima oratória que atraía grandes plateias.
Final do governo de Dr. Ivo Queiroz, o médico apresenta o candidato a sua sucessão: o vereador Joca Néri (PSD). Florianita Oleron discordou mais uma vez de Dr. Ivo. “Joca tem ojeriza à pobreza. Ele não gosta de gente pobre!”, vaticinou. O prefeito Dr. Ivo confiante na sua força política, lançou Joca Néri em um grande comício decorado com folhas de bananeira (seu símbolo político). Ressabiada com o candidato, Oleron deu um crédito ao médico e chegou a discursar no palanque a favor de Néri. “Fiquei impressionada! O povo pobre compareceu em massa ao comício”, descreveu a professora. O candidato apresentado pela oposição era o empresário do Engarrafamento PITU, José Augusto Ferrer de Moraes (MDB).
No outro dia, os principais líderes da oposição procuram Florianita Oleron para uma conversa. Sua decisão é reflexo de sua genuína personalidade. Qual foi a decisão? Bem, isto nós relataremos na próxima matéria!
A segunda parte desta NOSSA HISTÓRIA…
A Professora Florianita relata as perseguições sofridas. As duas grandes chances que teve de ficar rica com a política e deixou passar. A tentativa de suicídio…
Sua mágoa da Professora Maria Celeste, uma das líderes das Ligas Camponesas. A opinião de João Cleofas sobre Dr. Ivo Queiroz. Sua impressão quanto a pessoa do ex-prefeito José Augusto Ferrer. Sua decepção e frustração a pessoa do atual Prefeito Elias Alves de Lira (PSD), bem como a sua opinião ao governo do ex-prefeito José Aglaílson (PSB). (LN/Equipe).
NÃO PERCA A 2ª PARTE DESTA NOSSA HISTÓRIA clicando AQUI.
Julho 2013
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